segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Você pode ser belo quando se quebra.


É fato que todo aquele que se permitiu sentir, amar, já quebrou o coração em mil pedaços algumas centenas de vezes!

Dia desses, em conversa com uma amiga, a gente tocou nesse tema: quando nos quebramos em mil pedaços. E ela me questionou, bem triste, se havia uma forma de juntar todos os pedaços quebrados dentro dela. Eu, sinceramente, acho bem impossível.

Se você rasga uma foto em pedaços, você pode até se empenhar bastante em colar as partes com fita adesiva mas, nunca a foto voltará a ser como era: inteira, perfeita. Se você quebra uma xícara de porcelana, pode ter o maior cuidado em colar as partes mas, a marca (aquela linha do quebrado) sempre estará presente na peça.

Nós também somos assim.
Nenhum papel quando se amassa volta a ficar perfeitamente liso como antes. Não tem jeito! Sempre ficarão marcas. Nunca ficará inteiro como antes.

Quando nos quebramos por dentro, a dor é praticamente física. Sentimos como se pedaços soltos flutuassem dentro do peito e nada que o mundo faça nos causa algum alívio. É extremamente doloroso esse processo e, muitas pessoas não conseguem e nem fazem ideia de como lidar com essas partes soltas. 

Nunca mais seremos inteiros, isso é um fato. Nunca mais nos juntaremos como antes, novinhos em folha. 

Mas quando eu vejo um vaso trincado, colado, eu entendo que ele viveu algo, passou por algo. Aquela cicatriz o torna mais belo, ele viveu algo, ele passou por algo muito intenso e hoje ele leva uma marca. Hoje você leva uma marca.

Leminski foi um cara muito inteligente ao falar da dor neste pequeno poema:

Um homem com uma dor
É muito mais elegante
Caminha assim de lado
Com se chegando atrasado
Chegasse mais adiante

Carrega o peso da dor
Como se portasse medalhas
Uma coroa, um milhão de dólares
Ou coisa que os valha

Ópios, édens, analgésicos
Não me toquem nesse dor
Ela é tudo o que me sobra
Sofrer vai ser a minha última obra

Nunca conseguiremos nos colar inteiramente, mas teremos medalhas no peito sobre todas as vezes que fomos quebrados, machucados e estilhaçados...
Não nos tornaremos inteiros mas, podemos cuidar bem das partes que restaram porque cada cicatriz que carregamos no coração é uma vitória, que diz ao mundo que PERMITIMOS SENTIR. PERMITIMOS AMAR.



Que venham as cicatrizes e as dores agudas.
Melhor assim do que passar pela vida intacto, mas sem ter sentido nada.

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